12 de nov. de 2008

V DIGITAL INTERATIVA NA EDUCAÇÃO: AFINAL, INTERATIVIDADE PARA QUÊ?





Thais Waisman

Escola do Futuro da USP – Thais@futuro.usp.br





Este artigo trata de pensar os usos socialmente relevantes da TV Digital Interativa no Brasil. O fato da definição do padrão de transmissão digital terrestre estar na agenda do Governo Federal para uma tomada de decisão breve, faz com que tenhamos que considerar os usos importantes deste veículo de comunicação na educação, ocupando espaços criados pelo Telecurso 2000, agregando novas oportunidades e discutindo a importância da interatividade no contexto da aprendizagem e das mídias digitais. A TV Digital Interativa é um meio de disseminação de informação dirigida à educação e que apresenta elementos da TV, da internet, do rádio e do vídeo, modificando os hábitos de consumo e de atitude do usuário, proporcionando novas formas de relacionamento com a TV, as mídias digitais e a nova condição da interatividade.



Introdução

Muito se tem falado ultimamente deste tema TV Digital Interativa, porém poucos textos tratam do assunto interatividade e a relação do consumidor e usuário final com esta nova mídia que se apresenta. Parece que o país está aguardando a fase da definição do padrão, para então se posicionar e começar a entender o que poderá ser feito localmente, mas como esta definição bate à porta, alguns estudos interessantes já mostram os direcionamentos possíveis.

Dados mundiais mostram que há mais de 24 milhões de casas conectadas na Europa e Ásia, possuindo um set top box (caixa preta ou conversor), sem contar os usuários americanos. As vias de acesso variam de satélite a cabo, podendo passar pela fibra ótica e aéreo-terrestre. Com esta nova parafernália digital, o telespectador poderá manter um certo nível de interatividade com o aparelho e até utilizá-lo como gerenciador de várias atividades dentro da casa, como controle de estoque, controle de alarme, secretária eletrônica e outros.

O público leigo deve estar se fazendo a pergunta clássica: para que eu preciso de mais uma parafernália na minha casa, se nem uso o que tenho? E a resposta vem imediatamente quando se observam índices incríveis de participação do público em programas como Você Decide, Casa dos Artistas, Show do Milhão e até do antigo vídeo game interativo pela TV – HUGO. Isto nos leva a uma importante necessidade intrínseca e incorporada do ser humano: a de participar, o desejo das pessoas de se pronunciarem e de saírem da posição de passividade, para o outro extremo que seria a TV e os canais de comunicação como vias de mão dupla no processo de comunicação!


Aqui cabe um pequeno parêntesis para explicarmos o que poderá compor a TV Interativa, ou seja, os canais virtuais e o enhanced TV. Os canais virtuais estão mais diretamente relacionados a serviços oferecidos ao usuário, como home banking, canal do tempo, guia eletrônico de programação, compras, votação, perguntas e respostas. O enhanced TV estaria mais relacionado com a programação existente (que pode ser perfeitamente aproveitada), agregando-se elementos informacionais e que permitem também uma interatividade, ou seja, uma intervenção do telespectador no conteúdo exibido. Por exemplo, se você está assistindo um documentário e quer saber mais informações sobre aquele tema, ou outros programas relacionados, ou sites na internet, ou livros, ou responder perguntas ou mandar uma pergunta para o expert da emissora, ou uma mensagem para algum outro usuário que está assistindo ao programas, isto tudo será possível com o simples manejo de um controle remoto semelhante ao já utilizado pelas pessoas, mas com quatro botões coloridos que indicados na tela, designam a que se referem quando o usuário aperta aquele simples comando.


I - Inclusão cidadã

Imaginem a revolução e o avanço para simples cidadãos que, por todos os motivos já exaustivamente mapeados pelos inúmeros trabalhos sobre Inclusão e Exclusão Digital pode representar. Ora, em torno de 15% da população tem acesso ao computador, mas em torno de 38 milhões de lares tem pelo menos uma TV . A capilaridade da mídia TV é enorme e a sensação de inclusão e a incorporação que o cidadão poderá sentir ao usar a TV e ver que ela lhe dá poderes de cidadania, de decisão, de escolha, de participação, de acesso a informações que antes estavam restritos a internet ou outros meios que não fazem parte da cultura e do capital social desta grande massa de indivíduos.

Num exercício simples, imaginem o uso que se pode dar no setor educacional, onde programas como Telecurso 2000, programas profissionalizantes como do SEBRAE e SENAC podem ter um peso enorme na formação e educação desta massa que não pode freqüentar escolas formais e não tem acesso ao computador. Há uma experiência americana, WISH TV que conecta pessoas simples da periferia de estados como Califórnia e Louisianna, via cabo, com a escola, através da TV Interativa. Neste projeto, pais, alunos e professores comunicam-se pela TV, pais fazem algumas atividades escolares com os filhos via TV e professores e pais trocam informações a respeito da vida escolar do filho. O resultado é diminuição da exclusão digital, aceitação simples desta mídia pelos pais e maior rendimento dos filhos na escola pelo simples fato dos pais estarem presentes.


Devemos deixar claro que a TV Interativa não é um computador e uma mídia não irá substituir a outra. Esta é uma grande tendência do discurso de experts quando uma nova mídia aparece: morte para uma e o céu para a outra. Temos que começar a pensar no grande desafio que é a convergência inteligente das mídias atualmente disponíveis e de que forma podemos tirar benefícios sociais, econômicos e culturais para o nosso país, tão carente de soluções de grande capilaridade.

Na Europa, continente mais desenvolvido no uso da TV Interativa, a necessidade de sofisticados sistemas de interatividade dos set top boxes começa a surgir agora, muito depois do estabelecimento e incorporação pelos usuários. Disto tiramos uma importante lição: as soluções mais eficazes são as mais simples. O capital social, o capital cultural e a cultura tecnológica de uma população devem ser respeitados sempre, pois o período que nos espera em breve é de aculturamento e transição, de aprendizagem coletiva de uso e aplicação desta nova TV.

TV Interativa não é somente comércio como querem alguns, não é só entretenimento como querem outros e nem só mais uma tecnologia que vem para que o povo invista mais uma fatia do seu salário. É uma nova filosofia do processo de comunicação, do processo de aprendizagem, de encontros e trocas, de conhecermos nosso pares que estão assistindo ao mesmo programa que nós e que podem ter as mesmas idéias e necessidades. É uma forma de resgate do sentido do coletivo e das comunidades, das redes de informação e aprendizagem beneficiadas e facilitadas pela tecnologia.


II - Mudança de hábitos

A nova tecnologia da TV Digital Interativa trará severas mudanças ao meio televisivo, aos hábitos de consumo, aos ambientes de aprendizagem, ao modo como os indivíduos se relacionarão com essa nova mídia. Como principais exemplos, podemos citar:

  • nova relação sensorial-cognitiva do aspecto de 16 X 9

  • vídeo digital de alta resolução

  • vários canais de áudio digital

  • maior imunidade aos fantasmas e ruídos com perceptiva melhoria da qualidade de imagem

  • viabilidade de trafegar simultaneamente canais de dados (datacasting)

  • possibilidade de múltiplos canais em resolução standard (SDTV) numa mesma faixa de 6 MHz.

  • Video-on-demand, personal video recorder, pay per view

  • Video games, apostasy jogos

  • canais de TV personalizados

  • email, SMS (short message servce), videoconferência

  • acesso à internet, chat com o key speaker do programa

  • internet banking

  • propagandas interativas onde com um simples click pode-se comprar o produto como resposta direta aos anúncios

  • t-commerce

  • novos ambientes de aprendizagem (corporativo e institucional, mesclando ambiente de trabalho com ambiente de aprendizagem, tanto do ponto de vista presencial e físico, como digital e interativo no mundo virtual)


Assim como as TVs preto-e-branca foram substituídas gradativamente por TVs coloridas, os equipamentos atuais de captação, pós-produção e exibição serão substituídos ao longo do tempo, quer seja por set top boxes digitais, quer seja pelas novas TVs digitais. As TVs irão evoluir para atender e tirar proveito de todas as características potenciais da convergência de mídias, explorando ao máximo a capacidade de transmissão oferecida pelas técnicas digitais em desenvolvimento.

Novas redes surgirão, novos provedores de conteúdos e toda uma nova parafernália tecnológica com profissionais especializados irá movimentar um mercado enorme, onde o consumidor poderá usufruir, se quiser, do controle sobre a programação, sobre o que quer escutar e ver. Pela possibilidade de uma via de mão dupla instalada, a bidirecionalidade, onde a TV não será apenas a comunicação de um para muitos, mas incluirá o modelo de comunicação já presente na internet, de muitos para muitos, a DTV parece ser um killer application por si só na interatividad

III - Os empreendimentos educacionais

Empreendimentos voltados para a TV Digital Interativa são ainda um grande desafio para pesquisadores, técnicos e empresários. Os recursos envolvidos numa iniciativa de caráter televisivo via iTV são significativamente maiores que aqueles despendidos quando se produz conteúdo para internet. Mesmo assim, a justificativa dessa proposta faz-se clara quando percebemos que o mundo está caminhando rapidamente para este tipo de iniciativa, especialmente no setor educacional, apesar das tímidas experiências que se têm notícia.

Segundo a Unesco, a taxa de repetência de crianças brasileiras no nível básico está em 24%. O Brasil é o recordista do continente latino-americano. Segundo estatísticas mais recentes divulgadas pelo Ministério da Educação, a taxa de repetência de 2000 - que usa dados de 1999 - é de 21,6% no nível fundamental e de 18,6% no médio. Na avaliação da Unesco, há problemas na qualidade do ensino.



WISH TV

Um excelente benchmarking pode ser feito com a World Gate e o Wish TV (www.wgate.com), ou seja, um projeto em andamento que envolve escolas, residências, pais, professores e alunos conectados via cabo, utilizando os recursos educativos da TV Digital e da internet banda larga. A pouca participação dos pais no processo educativo dos filhos, no que diz respeito à vida escolar ou tempo passado dentro das escolas, é um fator crítico que assola várias comunidades no mundo todo. Para resolver esta questão crucial e diminuir o gap entre pais e filhos, escolas e pais e mesmo o fosso digital, o programa The WISH TV (WorldGate Internet School to Home) foi desenvolvido nos EUA e utiliza-se da tecnologia disponível de TV digital via cabo e, conseqüente acesso à internet. WISH TV provê acesso à Internet para estudantes e professores na escola e nas residências, através do sistema a cabo e set top boxes instalados. Isto resolveu um outro problema que era o custo das chamadas telefônicas e dos provedores de acesso, além da velocidade de navegação e potencialidade para uploads e downloads mais velozes. Este tipo de iniciativa provou ser uma solução prática, uma vez que beneficia a todos que estejam conectados por cabo e possuam um key board ou teclado


IV - Usos socialmente relevantes

O Relatório Integrador dos Aspectos Técnicos e Mercadológicos da Televisão Digital versão 1.0 de 28/03/2001, mostra uma grande expectativa que a ANATEL deposita nos usos sociais da TV Digital, disseminando e tornando acessíveis serviços vitais para a população em geral, dentre eles a educação à distância. Neste mesmo relatório da Anatel, no capítulo sobre “Expectativa dos usuários brasileiros para a televisão do futuro”, fica clara a disposição favorável do nosso público em relação aos recursos e facilidades que a TV Digital poderá trazer para seu cotidiano. Cabe lembrar igualmente a menção ao fato de que a TV Digital é um aparelho em tese mais simples de se operar do que o microcomputador e mais abrangente, pois mais pessoas o utilizam.


Apesar da “popularidade” da internet, o Brasil ainda não é um país on line e demorará um pouco para sê-lo. Em relatório da OECD de 2001, aponta-se 2,9% da população brasileira com acesso à internet; em contrapartida, mais de 35 milhões de residências no Brasil (mais de 90%) têm aparelhos de TV, provando a capilaridade desta mídia, do seu poder e do potencial desta demanda reprimida por conteúdos de maior informação ou como veículo de educação neste país.

O estudo feito pela autora para o CPqD (Centro de pesquisa e Desenvolvimento) revela que as aplicações socialmente relevantes par ao brasileiro e que poderiam te rum grande impacto no uso e aceitação da Tv interativa são: tele-educação, telemedicina, inclusão digital e governo eletrônico.

Tendo em vista o movimento concreto de países que já operam com a TV Digital, juntamente com a expectativa positiva do público brasileiro, os projetos de integração social e educacional, mais propriamente de inclusão digital, através da especificação e desenvolvimento dos aplicativos interativos para produções voltadas especificamente para a aprendizagem são o foco de estudos e pesquisa do LABITV – Laboratório de TV Interativa e Multimeios da Escola do Futuro da USP.

Atualmente, as interfaces disponíveis privilegiam o comércio, os jogos, o home-banking, a publicidade, o e-mail, enfim, uma série de propriedades que servirão para alavancar o negócio iTVl; além de comporem a seara de ferramentas que possam tornar mais atrativa a TV para uma geração que foge dos padrões normais da TV estática, ou seja, o Young People Generation.


V - LABITV


O LABITV é um laboratório de pesquisa que entende que o seu papel seja o de promover, paralelamente aos esforços da iniciativa privada, as investigações, análises, projetos, desenvolvimento de meios e ferramentas, de tecnologias e de expertise que possam incluir a iTV como mais um instrumento nesse contínuo esforço que é o de disseminar conhecimentos em nosso país.


Seus três focos principais serão:

  • iTVeducação, dedicado às produções televisivas educacionais em Enhanced TV;

  • Multimeios Aprendizagem, dedicado aos projetos localizados, que farão uso conjunto de TV Digital, Internet, Satélite/PC, e que atenderão às Escolas e Empresas;

  • Escola Kids, dedicado à produção de conteúdos lúdico-interativos educacionais veiculados por TV Digital.


Nossa proposta, portanto, é a de estabelecer o ciclo completo da TV Digital Interativa neste recorte específico constituído por escolas e residências:

  • desenvolvimento de aplicativos voltados para a aprendizagem

  • produção de programação educativa – enhanced TV e canal virtual

  • instalação de um conjunto limitado de set-top box em residências e escolas

  • transmissão e interação através de canal de retorno (telefone)

  • estudos avaliativos dos resultados obtidos ao longo do ciclo de implantação.



Objetivos específicos

  • Especificações de aplicativos educacionais

  • Pesquisas sobre arquitetura de navegação p/ programa interativo

  • Definição de padrões de interatividade – comunicação com o usuário

  • Produção de pesquisa qualitativa e quantitativa em iTV

  • Estudo de convergência de mídia: internet e iTV em projetos integrados de convergência inteligente das mídias disponíveis

  • Formação de profissionais para a área

  • Produção de programação Enhanced TV , num primeiro momento e depois interativo, conforme disponibilidade.

  • Definição e desenvolvimento dos formatos e conteúdos para produção de programas interativos

  • Estabelecimento de processos e procedimentos para produção de programas interativos

  • Definição de processos consistentes de avaliação das atividades dos usuários, quer seja em termos de preferência de programação, quer seja como performance no âmbito da aprendizagem

Metodologia geral de trabalho

Pretende-se entender o ciclo completo de ensino e aprendizagem pela mídia TV, enriquecida com os recursos que a TV Interativa pode proporcionar. A avaliação da performance no processo de aprendizagem de alunos, tanto de Ensino Fundamental, quanto de Ensino Médio, assim como da educação de adultos, que irão fazer uso da programação educativa veiculada pela TV Interativa, é um instrumento vital do ponto de vista do interesse, mudanças de comportamento, aceitação da nova tecnologia, dificuldades, encontradas, falhas na metodologia, motivação de alunos, professores e cidadãos e outros parâmetros que irão nos indicar os melhores e mais adequados usos desta nova mídia, norteando produções futuras para a inclusão social e inclusão digital da população brasileira.

Através de capacitação tecnológica para o uso das mídias internet e TV Digital, os professores, pais e alunos trabalharão com novos conceitos da educação para a sociedade da informação e do conhecimento, visando inovar sua prática didática junto aos alunos, maior participação dos pais no processo educacional e mais recursos midiáticos para os alunos, inovando o conceito de estudar.


VI - A TV educacional

Esta pesquisa tem um caráter absolutamente inédito no que diz respeito ao olhar educacional da mídia TV, agora assumindo um outro papel dentro do contexto de vida e hábitos da população em geral. Com a facilidade de uso do laboratório de desenvolvimento e produção interativa multimeios: TV Digital e internet implantado na Escola do Futuro da USP, assim com o acordo institucional com o CPQD que permitirá o uso do seu Laboratório de Usabilidade e a realização da pesquisa em campo, pretende-se alcançar os seguintes resultados:

  • Capacidade de especificar e desenvolver aplicações e interfaces na área de educação em ambientes de TV Digital Interativa, tanto para o ensino quanto para o trabalho;

  • Análise doc comportamento do usuário e as respostas do público alvo do projeto ;

  • Especificação dos processos para a produção de conteúdo interativo;

  • Treinamento de professores da rede pública estadual e municipal para a utilização produtiva e otimizada da TV Digital Interativa, em caráter experimental, inicialmente;

  • Entendimento da possibilidade de uso dos recursos de aplicativos disponibilizados na iTV no âmbito educacional:

  • Guia eletrônico de programação educativa

  • VOD de cursos e programas já veiculados

  • Web site de apoio

  • Solicitação dos vídeos pelo web site

  • Serviços interativos de apoio ao estudante como: home banking, tempo, livraria,

  • news , vídeos, outros programas – objetivo é situar o aluno no mundo real

  • Quizzes , Q/A simplificados, votação

  • Suporte à lição de casa, trabalho por projetos, testes, revisões

  • Suporte ao aluno e aos pais para o mercado – teste vocacional + oportunidades de trabalho + conhecimentos que deve adquirir para determinada posição + cursos para que ele atinja os objetivos

Conclusão


O ciberespaço e a Tv interativa são realidades que convivem lado a lado, inseparáveis e realidades inevitáveis. O que devemos é preparar-nos para tal mudança, entendendo os processos, criando metodologias,

Desenvolvendo produtos e testando no campo, ou seja, dentro das escolas, com alunos, pais e professores participando do processo, afinal, não dá para lançar um produto sem envolver os próprios consumidores, assim como não se pode depender do mundo globalizado, ao contrário, esta é a hora e o local para o Brasil marcar presença neste cenário mundial.


Bibliografia


Comentários à consulta pública 291/01 – DIBEG (Digital broadcasting experts group)


2000: Interactive Enhanced TV – a historical and critical perspective, Tracy Sweldlow, 2000


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Development of satellite and terrestrial digital broadcasting systems and services and implications for educational and training – PJB Associates, july, 1999


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TV personalization – a key component of iTV, Jim Stroud – The Carmel Group, 2000


Avaliação técnica e econômica nas áreas de telefonia celular, DTV e agroindústria – seleção padrão DTV para Brasil – NEIT/IE/Unicamp, 2000


Turn on, tune in, switched off – consumers atitudes to DTV – Cosumers Association, UK, 2000


Comntários DVB à consulta pública da Anatel no. 291, julho 2001


DVB-MHP White paper, Open TV, 2001


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Faith Popcorn – O relatório Pop Corn, 1990


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www.pjb.co.uk

www.tvmeetstheweb.com

www.wgate.com

www.broadbandbanans.com

www.luditv.com

www.twowaytv.com

www.nds.com


O desafio da inclusão digital




O desafio da inclusão digital

Isa Maria Freire, Universidade Federal Fluminense


Abstract
Apresenta resultados preliminares da pesquisa da autora sobre o desafio que se coloca à sociedade brasileira, com relação à disseminação e utilização das tecnologias digitais de comunicação da informação. Discute as reais possibilidades de atuação democrática através da Internet, bem como a constatação de uma ‘brecha digital’ entre países ricos e países pobres em informação, em nível internacional, e entre grupos sociais, em nível nacional. Comenta a responsabilidade social dos profissionais da informação, qual seja, a de facilitar a comunicação do conhecimento para aqueles que dele necessitam na sociedade, contribuindo para democratizar o uso dos recursos de informação.


Texto Completo: PDF



http://revistas.puc-campinas.edu.br/transinfo/viewarticle.php?id=68&locale=pt&locale=es&locale=fr&locale=es

Inclusão digital & inclusão social


Renato Martini

Diretor-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação. Casa Civil – Presidência da República.

O verdadeiro obstáculo consiste nisto que os atores, para adquirir uma capacidade de ação a este nível de globalidade, devem aprender a não mais e apenas se conceber como atores decidindo de forma independente, mas como membros de uma comunidade mundial e a assumir interesses universalisáveis no quadro de suas próprias preferências.

(J. Habermas)

Em muitos estudos sobre a realidade nacional, constata-se que um terço de nossa população vive na pobreza absoluta e com baixos níveis de escolaridade, sem acesso à educação, ao trabalho, à renda, à moradia, ao transporte e à informação. Ainda que o país tenha mudado substancialmente ao longo do último século, tais desigualdades sociais mantiveram-se. É neste quadro que se insere a exclusão digital.

Assim, a idéia de transformar a cidadania digital em política pública consolida alguns pontos de vista. Inicialmente, é o reconhecimento de que a exclusão digital amplia a miséria e dificulta o desenvolvimento humano local e nacional. Também deve-se considerar que o mercado, de forma imediata, não irá incluir na era da informação grupos sociais menos privilegiados. O mesmo se passou na alfabetização da população, ela não seria massiva se não fosse pela transformação da educação em política pública. Por conseguinte, é condição essencial a participação do Estado neste processo. Por fim, temos de constatar que o direito de se comunicar só é garantido plenamente para quem tem acesso à comunicação em rede.

O que se objetiva tão-somente é o uso livre da tecnologia da informação, com a ampliação da cidadania, o combate à pobreza, a garantia da privacidade e da segurança digital do cidadão, a inserção na sociedade da informação e o fortalecimento do desenvolvimento local.

Os excluídos digitais estão à margem da sociedade em rede – muitos têm chamado tal fenômeno de analfabetismo digital. Sem inclusão digital, como uma decisiva política pública, os programas de governo eletrônico acabariam privilegiando o atendimento das elites econômicas, das elites regionais, e apenas ampliando as desigualdades. Assim sendo, a velocidade da inclusão é decisiva para que a sociedade tenha recursos humanos preparados em número suficiente para aproveitar as brechas de desenvolvimento em nosso país.

Estar incluído na sociedade é condição vital para o desenvolvimento de qualquer cidadão. Cabe às várias esferas de governo, também ao poder local, dar a oportunidade de incluir a população nos benefícios do mundo em rede, promover a cidadania digital e consolidar os direitos à cidadania. Acesso aos serviços públicos, o acesso à informação e o controle da implementação das políticas públicas serão otimizados no mundo da Internet. Mas o cidadão tem de estar neste novo mundo...

A promoção da cidadania é uma iniciativa fundamental para incrementar a educação da população brasileira, assegurar a preservação de nossa cultura (com a proliferação de sítios de língua portuguesa e temáticas vinculadas ao nosso cotidiano), iniciar a requalificação profissional de trabalhadores e incentivar a criação de postos de trabalho de maior qualidade. Também para a afirmação dos direitos das mulheres e crianças, desenvolvimento tecnológico sustentável e aprimoramento da relação entre o cidadão e o poder público, enfim, para a construção da cidadania digital e ativa. É a transformação da gestão do Estado sob o enfoque do cidadão, transformação fundamental dos processos de produção nos quais os serviços públicos são gerados e entregues.

Esses princípios nortearam em 2003 o governo brasileiro, ao incluir, em seu programa interministerial de governo eletrônico, um comitê técnico para inclusão digital. O mesmo se passa no Projeto Casa Brasil. Trata-se um dos planos mais ousados de inclusão social do país. Mais do que um local de acesso à Internet, a Casa Brasil é um espaço de cidadania e cultura digital, caracterizado pela existência de telecentro comunitário, espaço cultural, ponto para produção multimídia, rádio comunitária, banco popular, banco postal e núcleos de informação tecnológica, com laboratórios de ciência e tecnologia. Esses núcleos de produção compõem um novo conceito de espaço para inclusão social, constituindo assim uma estrutura modular de trabalho em que os cidadãos podem realizar projetos comunitários, culturais, profissionalizantes e educacionais.

O projeto, além de ser um ponto de conexão à Internet, será um centro de capacitação real, em que a população poderá aprender uma profissão em qualquer das atividades oferecidas. O objetivo inicial da Casa Brasil é ser a porta de entrada das comunidades para a rede mundial de computadores e para os serviços e informações prestadas pelos agentes públicos: prefeituras, estados e União. O objetivo estratégico é romper o processo de reprodução das condições de miséria, desesperança e falta de perspectivas das populações carentes. Trata-se de inserir essas comunidades na sociedade da informação.

A intensa participação da comunidade é a condição essencial para o sucesso do Projeto Casa Brasil. Afinal, não faz sentido um projeto de cidadania digital voltado para poucos. O envolvimento da população se dá não só mediante o uso livre do equipamento e da participação em atividades, mas, inclusive, da administração da Casa Brasil. Os cidadãos devem ser convidados a participar de sua co-gestão.

As regras de uso da Casa Brasil devem ser decididas por um conselho gestor, composto por representantes da comunidade local. Os membros do conselho gestor são eleitos periodicamente para fiscalizar o seu funcionamento e sugerir melhorias. O conselho gestor é um canal democrático entre a sociedade civil e a prefeitura para que a política pública seja executada conforme os interesses da comunidade. Tem como objetivo ampliar a oferta e melhorar a qualidade da prestação de serviços e informações públicas por meios eletrônicos.

Governos democráticos e participativos encontram nas tecnologias da informação e da comunicação ferramentas fundamentais para a desburocratização dos processos de trabalho, para a melhoria da gestão e da qualidade dos serviços prestados, para a democratização do acesso e para efetivo controle social das ações governamentais. As tecnologias da informação e da comunicação permitem que o Estado desempenhe suas funções de forma integrada, eficiente e transparente, reduzindo custos administrativo-operacionais e propiciando melhores condições para ações de melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.

O Programa Governo Eletrônico apresenta também um componente de inserção do país no contexto da chamada nova economia e da sociedade da informação. As práticas internacionais mostram que o uso intensivo das tecnologias da informação e da comunicação pode repercutir na progressiva universalização da oferta e do acesso aos serviços e informações em meio eletrônico, sobretudo na Internet, de forma contínua e ininterrupta.

Uma das ações dentro do governo eletrônico é a inclusão digital mediante a implantação e manutenção de telecentros, que visa à capacitação da população mais carente, para o cidadão incluído digitalmente conseguir gerar, armazenar, processar e distribuir informações com a velocidade que as tecnologias da inteligência permitem. Um processo de capacitação social que busca evitar que as tecnologias da informação aprofundem as desigualdades socioeconômicas. É evidente que o primeiro passo da inclusão digital é assegurar o acesso ao computador, à Internet e às linguagens básicas da sociedade da informação.

O projeto visa a implantar em municípios brasileiros espaços comunitários, nas áreas mais carentes, que possibilitem o acesso livre à Internet e a capacitação dos cidadãos em tecnologia da informação por meio de estruturas modulares, que incluam telecentros, espaços para a produção radiofônica comunitária, unidade bancária, espaço cultural, núcleos de informações tecnológicas e módulos de presença de órgãos federais.

Os telecentros da Casa Brasil serão capazes de incluir digitalmente 3 milhões de cidadãos, pois cada telecentro terá de 10 a 20 computadores conectados em banda larga, possibilitando o acesso à comunicação em rede para no mínimo 3 mil pessoas residentes no seu entorno.

Mais do que um local de acesso à Internet, o Casa Brasil é um espaço de cidadania e cultura digital caracterizado pela existência de telecentro comunitário, espaço cultural, ponto para produção multimídia, rádio comunitária, banco popular, banco postal e núcleos de informação tencológica, com laboratórios de ciência e tecnologia. Esses núcleos de produção compõem um novo conceito de espaço para inclusão social, constitutindo assim uma estrutura modular de trabalho em que os cidadãos podem realizar projetos comunitários, culturais, profissionalizantes e educacionais.

Sociedade da informação: democratizar o quê?


NELSON PRETTO * e MARIA HELENA BONILLA **
Jornal do Brasil, 22 de fevereiro de 2001, seção Internet

O programa Sociedade da Informação www.socinfo.org.br foi desenvolvido por diversos países, no mundo inteiro, com o objetivo de elaborar políticas de inserção neste mundo de conexões, tecnologias e globalização muito intensa. A idéia desses países sempre foi a de juntar um grupo de especialistas em diversas áreas do conhecimento para elaborar propostas iniciais em termos de educação, saúde, cultura, trabalho, transportes, governo eletrônico, política de desenvolvimento científico e tecnológico, entre outras, criando-se o chamado Livro Verde (Green Book).

No Brasil, esse livro foi lançado oficialmente pela Presidência da República, em agosto do ano passado, sendo esta, apenas, a primeira etapa do processo. Agora, ele tem que ser amplamente discutido com a sociedade para que possa se constituir em políticas que efetivamente atendam às necessidades da sociedade brasileira.

Do ponto de vista filosófico e político, quando se elabora um programa como este é necessário ter bem definido que projeto de sociedade se deseja, muito mais que a simples identificação do projeto para uma sociedade da informação. Temos que saber com qual concepção de sociedade estamos trabalhando.

Entre tantas concepções, a predominante contempla exclusivamente a questão do mercado, pelo fenômeno da globalização. Nesta concepção, é a universalização do acesso às tecnologias de informação e comunicação que vai oferecer a infra-estrutura necessária à informatização e ao desenvolvimento da economia, o que trará, como conseqüência natural dessa visão de mundo, o desenvolvimento da sociedade como um todo, não sendo, portanto, prioritário investir em questões sociais.

A história recente tem nos mostrado que essa lógica - primeiro o econômico e depois o social - não está conseguindo dar conta das crônicas desigualdades sociais no mundo todo. As questões econômica e de mercado, na nossa concepção, devem ficar subjacentes à questão social. E aqui a questão da universalização do acesso é condição necessária, mas insuficiente.

Falamos da necessidade de formar um cidadão pleno, mas o que percebemos é que o conceito de cidadania está enfraquecido. Atualmente, ele está associado, apenas, aos direitos do consumidor, o que é apenas uma parte da cidadania. Para que a cidadania seja plena, precisamos investir na autonomia do cidadão e na democratização da informação, o que implica potencializar processos horizontais de organização, produção e aprendizagem coletiva que se constroem com o acesso às informações.

Não podemos, portanto, nos contentar com o simples oferecimento de cursos ligeiros e baratos, presenciais e a distância, que oportunizem o (auto)aprendizado de noções básicas para o uso de serviços de informática e internet.

Assim, o grande desafio será o de articular todas as organizações da sociedade - universidades e faculdades (estaduais, federais e particulares), governos federal, estaduais e municipais, a iniciativa privada - buscando, efetivamente, a formação de cidadãos ativos e autônomos, universalizando o acesso à internet e promovendo a democratização da informação.

A articulação de todas essas instâncias favorecerá a montagem de uma grande conexão em rede, criando-se com isso uma rede científica, cultural e educacional de sustentação e fortalecimento do tecido social. Imaginamos que um trabalho conjunto do sistema educacional com as demais organizações não-educacionais possa vir a potencializar essas conexões, tornando-as plenas de sentido para quem as utiliza, com conteúdo criado localmente, de forma a trabalharmos na direção de uma inclusão digital ativa e contextualizada para toda a população.

Aqui, a inclusão é, também, entendida no sentido pleno, o que implica algo muito mais do que ter condições de, pela internet, comprar, acessar informações e participar de cursos a distância. Significa a participação efetiva, onde os indivíduos têm capacidade não só de usar e manejar o novo meio, mas, também, de prover serviços, informações e conhecimentos, conviver e estabelecer relações que promovam a inserção das múltiplas culturas nas redes, em rede.

O capítulo Educação na Sociedade da Informação do Livro Verde trata, com uma certa intensidade, da educação a distância, apontando-a como a metodologia adequada para resolver o problema da qualificação profissional, como se essa qualificação fosse suficiente para inserir a população no mercado do trabalho e, principalmente, no mercado de consumo.

Temos que estar atentos para o enfoque que queremos dar a essa questão. O que precisamos hoje é fortalecer a conexão do sistema público de ensino, mais do que centrar fogo nas questões de educação a distância, apesar de sabermos que elas são importantes e devem ser consideradas. No entanto, no nosso ponto de vista, isso é o que mais tem gerado equívocos.

Fala-se muito nas questões de alfabetização digital, mas não podemos esquecer que a alfabetização digital não está desvinculada das demais alfabetizações - da língua, dos números, da ciência, da expressão corporal. Em outras palavras, ou articulam-se estes saberes intensamente ou a alfabetização será parcial, podendo gerar o analfabetismo funcional digital. Não há como simplesmente dizer que se vai qualificar um trabalhador ensinando rudimentos de informática, porque, desse modo, ele será, também, um profissional de segunda categoria.

Portanto, utilizar educação a distância para ensinar a navegar na internet é um grande equívoco. Não é necessário ensinar aos jovens a navegar na internet. A meninada sabe fazer isto tranqüilamente. E, se estas tecnologias forem colocadas dentro da escola, eles vão inclusive passar a utilizá-las de formas diferenciadas das previstas.

Quanto à argumentação de que os adultos têm mais dificuldades com a tecnologia, nossa experiência mostra-se divergente. A Faculdade de Educação fez, recentemente, um trabalho com o Movimento dos Sem-Terra e, numa única tarde, os monitores dos assentamentos já estavam navegando e utilizando o correio eletrônico. Também tivemos uma experiência com os professores do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-BA), e foi fantástico presenciar a familiarização-relâmpago que aconteceu com os professores, que, no final do primeiro encontro, já estavam demonstrando uma certa desenvoltura, dando explicações do porquê estavam agindo desta ou daquela forma.

Esses são exemplos de que não há barreiras, sejam elas de idade, sejam elas da área de onde o sujeito advém, para a inserção nessa cultura tecnológica. Também mostram que não são necessários cursinhos do tipo introdução à informática, organizados linearmente, para ensinar a navegar. A navegação é uma coisa absolutamente simples e, mais do que colocar a população como usuária, como consumidora, ela deve ser colocada na qualidade de produtora de conhecimento.

Todo ser humano, seja ele jovem ou adulto, vai se familiarizando à medida que interage com a máquina, à medida que futuca de acordo com seus interesses e necessidades, não existindo razão para a imposição de pré-requisitos, a qual serve mais para barrar o processo de construção do que para estimulá-lo. O que precisamos é formar uma população ativa que se aproprie das possibilidades tecnológicas, para a efetivação de uma consciência coletiva inteligente, em busca de uma cidadania global.

* Diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia www.ufba.br/pretto. E-mail: pretto@ufba.br

** Doutoranda em Educação na Faculdade de Educação da UFBA; bolsista Capes www.faced.ufba.br/÷bonilla E-mail: bonilla@ufba.br